ContAção: tradição popular, teatro e jogo nas ruas de São Luís.


(Crítica teatral por Michelle Cabral)


A V da Semana do Teatro no Maranhão, edição 2010, incluiu pela primeira vez, dentro de sua programação, a mostra nacional de Teatro de Rua.

Tendo como cenário natural o Centro Histórico, popularmente conhecido como “Reviver”, os grupos (em sua maioria) ocuparam a Praça Nauro Machado que fez justiça ao nome que a batiza. Em seus contornos desfilaram ao longo da semana as mais diversas “poéticas teatrais” vindas de diferentes regiões do País.

Dentre muitos grupos teatrais que integraram a mostra, merece destaque a Cia. Xama Teatro de São Luís, o grupo, já conhecido pelo trabalho com “contação de histórias”, nos surpreendeu com o espetáculo de rua A Carroça é Nossa!

O espetáculo não fugiu à pesquisa com a narrativa que já caracteriza o grupo, no entanto não se deixou “aprisionar” na fala, ou na infantilização da narrativa, como comumente acontece nestes casos. Ao contrário, apresentaram um espetáculo de teatro com todos os seus ingredientes: corpo, ação, jogo.

O elenco, uma mistura de atores e brincantes, usou de todos os recursos de que dispunham

para contar e mostrar as lendas, histórias e brincadeiras de nossa cultura popular. Afinados,

com o acompanhamento ao vivo do ator e músico Lauande Ayres, usam a sonoplastia musical para pontuar os momentos cênicos, criando um interessante jogo de meta-teatro que conquistou o público logo na chegada.

A comunicação direta com a platéia incitava à participação fazendo do público co-autor em alguns momentos, como na cena da “adivinhação” e da lenda de São Marçal, onde pessoas da platéia (crianças) jogam como personagens.

O figurino não é inovador. Contudo é muito bem aplicado. Uma mescla de “comédia dell’arte” com elementos da cultura popular maranhense, preenche o espaço cênico com luz e cores atraindo o olhar do público passante.

Diante de tão cuidadoso trabalho, apenas uma ressalva se faz necessária. A carroça, principal elemento cenográfico, que dá sustentação ao nome do espetáculo, poderia ser mais bem aproveitada. Reduzida a utensílio (guarda- volumes) perde seu poder de teatralização e de integração à ação dramática, convertendo-se em “baú”.

Um detalhe fácil de resolver com esta trupe tão criativa e competente que só tem a contribuir ao teatro de rua do maranhão.




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